sexta-feira, 2 de abril de 2010

Antígona: Uma Opinião

Sexta-feira passada fui ao Teatro Nacional S.João ver a peça “Antígona”. Hoje decidi compartilhar convosco as minhas opiniões e impressões sobre a história e a peça em si.
A história de Antígona é a história de uma mulher que ousa questionar as justiça das leis escritas de uma cidade- Tebas- e a justiça das decisões do Governador da cidade- Creonte, seu tio.
A Peça começa com o fim de uma guerra onde dois irmãos, Polinices e Etéocles , se debateram até à morte pelo trono de Tebas. Estes são irmãos de Antígona, a personagem que dá nome à peça. Quem sobe ao trono acaba por ser Creonte que vai lançar um édito que concede uma cerimónia fúnebre a Etéocles mas deixa Polinices sem o direito de ser sepultado e entregue às leis da natureza, aos cães e às aves esfomeadas. Creonte entende isto como um exemplo para aqueles que atentem contra a cidade de Tebas. Acreditava-se então que sem uma cerimónia fúnebre a alma da pessoa ficaria a vagar cem anos na margem do rio que conduzia ao mundo dos mortos sem poder passar para a outra margem, para o Hades.
Antígona decide que Polinices merece uma cerimónia fúnebre e leva as suas convicções ao ponto de decidir arriscar a sua vida por elas. Creonte descobre e manda Antígoba ser fechada numa gruta para sempre. É esta decisão de Creonte que vai levar ao desfecho da história que comprova a designação de tragédia: Antígona morre e o filho de Creonte que era seu noivo suicida-se ao ver o cadáver da amada. A mulher de Creonte ao saber da morte do filho mata-se também.
Antígona é uma história que reflecte sobre o poder de um governante e a sua sensatez. Sobre o que significa ser poderoso e o que significa ser sensato. Sobre até onde se pode fazer cumprir uma lei e até onde se pode obedecer a uma lei. Sobre as leis dos Homens e as leis dos Deuses.
A história é envolvente, filosófica e intrigante. Quanto à peça em si peca pelo pouco dinamismo: nenhum dos acontecimentos mais marcantes da história se passa em palco: não vemos Antígona sepultar Polinices nem a ser descoberta pelos guardas. Não vemos Antígona na gruta, nem o suicídio de Hémon e de sua mãe. Tudo nos é contado. A peça fica entregue às perguntas sem resposta, ao deambular dos sentimentos de cada personagem, à reflexão.
Aquilo que de melhor retirei da peça é o facto de um texto escrito por Sófocles à mais de 25 séculos atrás nos poder dizer tanto, melhor, questionar tanto, os dias de hoje.

Nunca é demais lembrar que podes assistir a Antígona até ao dia 23 de Abril no TNSJ. Os bilhetes podem ser adquiridos online ou lá na bilheteira. O primeiro programa do Primeira Fila, que pode ser ouvido aqui, fala também desta peça.


“Creonte: Então o Estado não é quem manda?
Hémon: Nenhum Estado é de um Homem só!”

Daniela Teixeira

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